Infelizmente, as renováveis da "moda", só por si, não conseguem satisfazer as necessidades energéticas do país
Nestas colunas Carlos Zorrinho dizia que eu vivia na frustração de não ter descoberto as renováveis para a produção de energia. O simpático senhor, recém-chegado à energia, padece dum pequeno mal, que é típico aliás dos cristãos novos que só descobrem a fé aos 50 anos. Julga que descobriu as renováveis, tal como Manuel Pinho acreditava que tinha descoberto o vento e a água para a produção de energia... Há, pois, que ter alguma indulgência para com o esforçado governante...
Fui eu no Governo que lancei as bases do aproveitamento do potencial endógeno nacional para a produção de energia eléctrica, através do DL n.º 189/88 de Maio de 1988, acabando então com o anacrónico monopólio da EDP sobre a geração eléctrica, o qual, aliado à sua visão majestática, não permitia o indispensável aproveitamento destas fontes. Nos anos 70, como engenheiro da EDP e ao ensinar Produção, Transporte (e Distribuição) de Electricidade no IST, já eu reflectia sobre estas coisas, época em que o prof. Zorrinho andava certamente a pensar nas novas oportunidades do PS...
Continuo a pensar, como na altura em que fiz o DL, que as energias renováveis podem e devem cada vez mais dar a sua contribuição para o aproveitamento do nosso potencial endógeno e para a diversificação do mix energético, mas, infelizmente, as renováveis da "moda", como a eólica e a fotovoltaica, só por si, não satisfazem as necessidades energéticas do país e como só produzem electricidade não reduzem em nada neste momento as importações de petróleo porque este já não é utilizado na produção de electricidade e porque o seu consumo é no sector dos transportes, além da indústria que o utiliza como matéria-prima. Não há sustentabilidade só com estas renováveis...
Quando tivermos a massificação do carro eléctrico, que infelizmente não é para já, devido ao problema das baterias, contrariamente à propaganda governamental, então, sim, poderemos substituir nos transportes parte do petróleo pela electricidade. Mas é fácil de perceber que não se deve instalar neste momento capacidade eólica para satisfazer um consumo propiciado pelos automóveis eléctricos que só aparecerá de forma massificada lá para depois de 2020. Assim sendo, o sonho do Governo e do lóbi eólico em resolver o problema do excesso eólico que se está a criar contando com o consumo do carro eléctrico tem de aguardar melhores dias...
A energia eólica teve um progresso tecnológico assombroso nos últimos 20 anos. Se em Portugal tivéssemos vento constante e regular, com as eólicas teríamos o problema de electricidade praticamente resolvido. Infelizmente o vento é um recurso sofrível em Portugal com forte intermitência, só soprando 25% do ano, o que significa que investimos em centrais eólicas, que são de capital intensivo, para elas só trabalharem 25% do tempo. Qualquer empresário sabe que se investir em equipamento de capital intensivo que trabalhe tão pouco tempo correrá riscos de ir à falência... Em complemento, a eólica precisa de centrais de bombeamento para acumular a energia à noite (quando há vento e não há consumo) e de centrais térmicas de apoio de dia (quando há consumo e não há vento). É o chamado triplo investimento (eólica-bombeamernto-térmica controlável) que não permite dispensar a importação de gás natural e carvão, os quais vão ser utilizados de forma subóptima nessas centrais, e que torna a produção eólica cara pelos custos fixos incorridos, embora o vento seja grátis. Como diz o povo, Deus Nosso Senhor até nos deu a água, mas não nos deu os canos para a aproveitar...
Neste contexto, o eng. Carlos Pimenta, meu brilhante aluno no IST, e hoje activo promotor de eólicas, quis nestas colunas confundir os leitores. Com efeito, métodos de previsão de vento (que vão sem dúvida permitir minimizar riscos de apagão por entradas e saídas súbitas das eólicas na rede devido à volatilidade do vento) não acabam com essa intermitência e com o facto de a capacidade instalada só ser utilizada 25% do tempo. Ele mostra aliás uma grande confusão sobre a necessidade de reserva de potência de back-up às eólicas no curto prazo (para amanhã) em que a melhoria dos métodos de previsão do vento poderá permitir reduzir erros nessa previsão, e portanto minimizar essa necessidade, e o problema central que é o de não se saber se há vento na hora de maior consumo da rede no próximo ano ou nos seguintes. Aqui não há modelo que dê essa resposta e por isso temos que dimensionar uma rede com potência térmica de reserva, esquecendo a eólica instalada... Como meu aluno, ele não merece, pois, a indulgência que tenho para com o Ssnhor secretário de Estado...
O eng. Carlos Pimenta também alinha com a propaganda governamental ao dizer que estas novas renováveis evitaram a importação de 800 milhões de euros de combustíveis. Ora o INE mostra-nos que entre Janeiro e Outubro de 2010, em relação ao período homologo do ano anterior, as importações de combustíveis (petróleo inclusive) aumentaram 1400 milhões, enquanto o contributo das renováveis para a diminuição da importação de carvão e gás natural se terá situado apenas em 154 milhões entre Janeiro e Novembro de 2010, em relação ao período homólogo do ano anterior, correspondentes à redução de produção térmica a carvão de 22,009 GWh entre Janeiro e Novembro de 2009 para 15,566 GWh entre Janeiro e Novembro de 2010.
Se fizermos as contas na base do que toda a produção renovável (hídrica incluída) substitui a importação de carvão, então, sim, chegaríamos a um número próximo dos 800 milhões de euros, mas isso não é honesto para o raciocínio em causa, pois a velha hídrica já cá está há muito. O que se trata agora é de ver o contributo das novas renováveis...
Engenheiro e economista"
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